Você conhece alguém que possui pouquíssimo conhecimento em relação a um assunto, mas se posiciona como um expert, uma especialista? E o contrário? Você conhece alguém que possui muito conhecimento, é admirado, é referência de muitas pessoas, mas a pessoa age, se comporta e fala como se ela não tivesse nenhum conhecimento? como se ela não tivesse nenhum conhecimento. Talvez ela até recuse convites e oportunidades por achar que o seu conhecimento é insuficiente. Apesar de todo mundo acreditar que ela possui conhecimento mais do que suficiente. Talvez você conheça alguém que se posiciona em algum desses dois papéis. A pessoa que sabe muito pouco, mas acha que sabe tudo E a pessoa que sabe muito, mas se posiciona como quem sabe muito pouco E talvez, além de conhecer pessoas assim, talvez você seja uma dessas pessoas Eu vou trazer até uma frase aqui que pra mim ela sintetiza um pouco a nossa dimensão, o nosso entendimento sobre a ignorância. Ela diz assim Talvez na mais cruel ironia, o que as pessoas tendem a ignorar é a extensão da sua própria ignorância. Onde que ela começa, onde ela termina e todo o espaço que ocupa no meio. Então, naquilo que nós somos incompetentes, ignorantes e todos nós somos incompetentes, ignorantes em milhares de coisas, em milhares de assuntos. Naquilo que a gente não domina, naquilo que a gente não tem conhecimento nós temos até mesmo dificuldade de julgar aquilo que nós fizemos o problema é que o conhecimento e as habilidades necessárias pra gente fazer algumas coisas são também às vezes o mesmo conhecimento e habilidade que nós precisamos para julgar se está certo ou errado o que estamos fazendo. Era aí que eu imagino que pode ter ficado um pouquinho confuso. Vou trazer um exemplo para vocês. Alguns anos atrás, muitos anos atrás, eu estava no ensino médio e eu estudava com um amigo que queria ser piloto de avião. Depois ele realmente se tornou, hoje ele é piloto de avião em Dubai. Mas naquela época era só uma vontade, ele nem fazia aulas ainda, enfim. E o pai dele era controlador de voo em Viracopos. E um dia, a gente, em comum, nós gostávamos muito de tirar fotos. Tirar fotos principalmente de aviões, de paisagens e tudo mais. Então ele me convidou para ir até o aeroporto de Viracopos, em Campinas, e tirarmos foto. E aí a gente foi com o pai dele. Quando a gente chegou lá, o pai dele também quis me mostrar como que era aquele ambiente, a torre de controle, que comanda os aviões e tá sempre passando as informações e tudo mais, então eu fui até a torre de controle e eu lembro que eu comecei a olhar pra aquela quantidade de botões, quantidade de comandos um monte de siglas e eu via as pessoas trabalhando ali, e eu não tinha a mínima noção do que estava acontecendo. Anos depois, o meu amigo João, já como piloto comercial, ele me mandou uma foto de como que era a sala do piloto dentro do avião a cabine do piloto e eu olhei pra aquele tanto de botão assim, eu falei, meu Deus, se eu sento naquele lugar, eu posso apertar posso pressionar qualquer um daqueles botões eu não tenho a mínima noção se está certo ou se está errado se eu estou fazendo algo que eu deveria estar fazendo ou se eu estou na verdade fazendo uma bagunça. Por quê? Porque eu não tenho a menor noção, sou completamente ignorante, incompetente no que tange pilotar um avião, ou estar trabalhando dentro da torre de controle. Tudo bem? Então, a minha ausência de conhecimento para operar a torre de controle ou para pilotar um avião, essa ausência de conhecimento também é uma ausência de conhecimento que impacta diretamente em eu conseguir julgar se eu estou fazendo certo ou errado. Tudo bem até aqui? Agora, quando nós temos mais conhecimento, nós conseguimos julgar até mais do que outras pessoas que possuem menos conhecimento. Vou dar um exemplo para vocês também. Quando eu fiz o meu primeiro vídeo para o canal do YouTube de uma das empresas que eu trabalhei Eu lembro que eu fiz o meu primeiro vídeo e eu estava um pouco receosa de como seria a recepção Eu tinha acabado de ser contratada Então eu fiz um vídeo sobre soft skills para uma base de pessoas da área de tecnologia Para programadores, num canal muito relevante E aí esse vídeo então foi postado. Quando esse vídeo foi postado, eu comecei a receber muitos elogios. E então, uma das pessoas que trabalhava comigo chegou para mim e falou assim, nossa Thay, esse vídeo ficou fantástico, esse vídeo ficou maravilhoso, você viu os feedbacks da galera, o pessoal está muito feliz, etc. Só que na minha cabeça, como uma pessoa que já lecionava comunicação, já estudava de maneira muito profunda a comunicação, eu olhei pra aquele vídeo e eu consegui identificar um monte de problemas, um monte de coisa que eu poderia ter feito de forma diferente, tanto na minha linguagem corporal, quanto na minha voz. Eu olhava e falava assim, meu Deus do céu, eu deveria ter refeito esse vídeo, eu deveria, e eu fiz super rapidinho pra eles conseguirem postar, então eu conseguia enxergar, eu conseguia julgar o meu vídeo, a comunicação que eu utilizei no meu vídeo, de uma forma que uma pessoa que possui menos conhecimento que eu, não conseguia, eu lembro que eu até virei para essa pessoa e falei assim, nossa, eu teria feito muita coisa diferente se eu tivesse com um pouco mais de tempo. E a pessoa falou assim, olha, você está enxergando, mas ninguém está enxergando esses pontos de melhoria que você está dizendo. E é exatamente isso que acontece. Quanto mais conhecimento nós temos, maior é a figura que nós conseguimos enxergar de conhecimento que ainda se falta ter. Olha só que interessante, quanto mais eu sei, mais eu consigo enxergar o quanto eu ainda preciso saber. Eu até criei uma analogia que pra mim, na minha cabeça, faz muito sentido e eu acredito que possa fazer sentido pra você se imagine um corredor escuro e na sua mão você tem uma vela ou uma lamparina, uma lâmpada e conforme você vai andando por esse corredor você vai conseguindo ter mais visibilidade do que está à sua frente. Então vamos supor, estamos diante de um corredor escuro e aí ao longo desse corredor tem algumas velas das quais você pode pegar a sua luz e acender essa vela. Então você vai andando por esse corredor e conforme você vai andando, você vai conseguindo enxergar o que está à sua frente. Até você caminhar, tudo que você enxerga é o que está exatamente, imediatamente na sua frente e não o que está no final do corredor. É tudo escuro, você não consegue enxergar o que está ao final do corredor, ao que está talvez a cinco passos de distância. Tudo que você enxerga é o que está exatamente à sua frente, a um passo de distância. Certo? Mas conforme você começa a caminhar, ou seja, conforme você começa a obter conhecimento, você vai conseguindo enxergar o que tem nesse corredor, você vai acendendo as lâmpadas, as velas, e você consegue olhar para trás para ver tudo o que você já percorreu, e você consegue, então, minimamente ter uma noção do que esse corredor pode te proporcionar. Quanto mais conhecimento eu tenho, mais eu entendo, consigo compreender o quanto eu não sei. Tudo bem? Então, só recapitulando. Num primeiro momento, a gente falou a respeito de pessoas que possuem pouco conhecimento, mas que acreditam que são especialistas. Começam a estudar algo e já sentem que possuem todo o conhecimento necessário e tudo que tem disponível. E se posicionam dessa maneira. Por outro lado, a gente tem pessoas que possuem muito conhecimento, mas que não se sentem capazes. E aí então eu contei esses dois exemplos para vocês, para a gente dialogar e refletir um pouco sobre como que nós lidamos com a nossa ignorância, com a nossa falta de conhecimento. E por muitos anos a psicologia social vem estudando a respeito desse assunto. E um dos mais clássicos estudos a respeito disso, que recebeu até mesmo um prêmio muito importante dentro do universo científico, se chama Efeito Dunning-Kruger. Na próxima aula, eu vou explicar um pouquinho mais sobre o que esse efeito pode nos dizer, o que esses estudos podem nos dizer. Mas essa introdução é necessária de maneira prática para a gente conseguir começar a refletir sobre como nós lidamos com a nossa ignorância, como nós lidamos com a nossa autoconfiança e com os nossos julgamentos, o quanto os nossos julgamentos estão tendenciosos, o quanto eles são tendenciosos, o quanto eu consigo claramente julgar o meu conhecimento e o conhecimento de outras pessoas, o quanto eu estou, na verdade, me subestimando ou me superestimando. Então, esse estudo vai trazer um pouco mais de clareza para nós através do entendimento desse viés cognitivo, vou explicar na próxima aula também o que é esse viés chamado Dunning-Kruger e a gente se vê então na próxima aula