Olá, tudo bem? Abaixo estão dois textos que vão trazer diferentes perspectivas sobre a velocidade de resposta em contextos de alta performance esportiva. O tempo de leitura previsto é de 10 minutos.

Texto 1

Em praticamente todos os esportes, o tempo de reação pode fazer toda a diferença nos resultados.

Mas o que ocorre no cérebro durante o tempo de reação? A resposta a esta pergunta envolve muitas etapas e compreendê-las pode auxiliar na preparação de qualquer atleta. A seguir listamos as principais etapas:

1 – Do olho ao cérebro

O mundo que vemos é na realidade apenas uma interpretação do mundo real. Isso pode até soar meio filosófico, mas do ponto de vista da neurociência é isso mesmo. O olho capta uma seleção de informações luminosas que não passam de uma pequena parte das informações existentes. Não vemos por exemplo, o infra-vermelho, nem o ultra-violeta, apesar de estarem aí em todo lugar.

Mas mesmo a informação que chega aos nossos olhos só começa a se transformar na imagem que conhecemos quando ela alcança nosso cérebro. Até aí ela viaja desde a retina, passa por outras estruturas e chega ao que chamamos de córtex cerebral. Só então começa a ser analisada. Se isso não acontecer, por exemplo, por uma lesão nesse caminho que leva do olho ao córtex, não vamos “enxergar” nada, mesmo com os olhos funcionando perfeitamente.

2 – Interpretando a informação

O córtex pode ser dividido em diversas regiões, e algumas delas são responsáveis primariamente em receber as informações visuais. As primeiras regiões que recebem estas informações ficam na parte occipital, bem atrás no cérebro. Estas informações vêm todas na forma de impulsos elétricos, e conforme vão passando de região em região, vão sendo interpretadas. A informação é passada de neurônio a neurônio nestas regiões através das chamadas sinapses.

3 – Localizando o objeto

Então quando um jogador de tênis vê a bola sendo atacada pelo seu adversário, por exemplo, a informação demora alguns milésimos de segundo para chegar ao córtex. O próximo passo é localização espacial da bola, e a região parietal entra como protagonista nessa fase. Essa informação ajudará o jogador a rebater a bola, mas nestas situações queremos mais que rebater a bola, queremos fazer o ponto, certo?

4 – Tomando a decisão

Então acertar a bola seria só uma parte da reação. O atleta tem também que decidir onde irá rebatê-la. Essa decisão acontece também dentro do cérebro. Então é preciso que aquela informação caminhe para outras regiões, onde vão se tornando cada vez mais complexas. Essas regiões fazem parte de diversas decisões durante o jogo e estão na chamada região pré-frontal do córtex. Essa comunicação entre as áreas também leva alguns milésimos de segundo.

5- Dando a ordem para os músculos

Agora, além de decifrar o que os olhos viram e tomar uma boa decisão, o cérebro ainda deve mandar a informação para os músculos se moverem de maneira adequada (queremos fazer o ponto, certo?). Para isso, vai integrar tudo que está acontecendo (visão, decisão, movimento) e elaborar a reação do atleta. Nesse momento, ainda outra região, o córtex motor, entra em atividade. Ela prepara e envia a ordem de movimento para os músculos. Ao final de aproximadamente 300 milissegundos o processo está pronto para virar uma reação.

Estas etapas estão todas por trás de um tempo de reação, e para que ocorram de maneira adequada devem ser trabalhadas tanto quanto a técnica do movimento.

Agora imagine a velocidade que vem a bola de tênis. Alguns milésimos de desatenção e temos uma bola alguns centímetros (ou metros!) mais longe. Por isso é importante que ele, o cérebro, esteja muito bem preparado para um bom desempenho, afinal… queremos fazer o ponto, certo? ; )


Texto 2

Por que o tempo de reação no atletismo é mais rápido que na fórmula 1?

No GP da Áustria no dia 09 de junho de 2017, o finlandês Valtteri Bottas se envolveu em uma polêmica: Teria ele queimado a largada ou não?

Nas suas palavras, o segredo está no treinamento: “Treinamos muito as largadas e também o tempo de reação. Durante os treinos, muitas vezes você consegue largadas perfeitas, mas durante as corridas, seu cérebro costuma ser mais cuidadoso, mas desta vez eu tive uma largada perfeita.”

O que realmente faz todo o sentido.

Além disso, mesmo depois de investigação foi inocentado por qualquer antecipação, já que a Formula 1 tem uma margem de erro para este tipo de ocorrido, admitindo alguns milésimos, que podem acontecer por conta de questões mecânicas, como um ajuste na embreagem do carro.

201ms vs 150ms

Polêmicas à parte, fato é que seu tempo foi registrado em 201 milésimos de segundo. Entretanto, o que parece ser uma largada tão rápida a ponto de questionar-se uma largada falsa, é muito lento comparado a uma largada falsa no atletismo, que ocorre abaixo de 100 milésimos. Será que isso ocorre por conta das regras?

Muito longe disso. Na realidade as regras estão ajustadas ao funcionamento do nosso cérebro. Isso pode parecer estranho, mas é o cérebro quem comanda toda a reação do atleta. Por exemplo, no atletismo, qualquer largada abaixo de 100 milésimos de segundo é considerada uma largada falsa simplesmente pelo fato de que é humanamente impossível reagir tão rápido a um estímulo.

Note aqui a diferença: No atletismo a largada do mito Usain Bolt, por exemplo, mesmo sendo considera uma largada lenta comparada a de outros corredores, gira em torno de 150 milissegundos (ou milésimos de segundos).

A luz vs o som

Isso acontece porque o cérebro humano (e de todos os mamíferos) reage mais rápido a estímulos auditivos que visuais. As informações visuais e auditivas chegam a seus respectivos órgãos receptores (o olho ou o ouvido), onde são traduzidas para impulsos elétricos, e levadas adiante por neurônios.

A partir daí, o caminho destes neurônios segue uma regra parecida: eles saem do órgão receptor dos sinais, fazem conexões em centros específicos de estruturas do nosso encéfalo, e em seguida, cada informação segue seu caminho até uma área específica no cérebro.

Tudo se baseia na COMUNICAÇÃO entre os neurônios

Seguindo seu caminho, as conexões entre os nerônios (sinapses) são feitas de modo a interpretar a informação que nosso ouvido ou olho recebeu, e reagir.

Acontece que o caminho percorrido pelo som até chegar ao cérebro, e consequentemente a reação ao estímulo sonoro, é temporalmente mais eficiente que a reação ao estímulo visual.

Você já sabe que os corredores devem reagir a uma largada sonora (sua posição de largada não permitira ser diferente), e os pilotos a um estímulo visual – as luzes se apagando – (o capacete também não permitira diferente).
Agora você sabe por que a reação dos atletas do atletismo é mais rápida!